Quando a Letícia me convidou a escrever aqui, ela sugeriu que fosse algo relacionado a crianças, público com quem tenho maior parte de minha experiência profissional.
Porém não consigo dividir muito bem minha carreira como psicóloga da minha carreira de mãe. E no momento, essa parte tem sido grande em minha vida. Assim, vou falar um pouco disso.
Como pais, temos inúmeras dúvidas e vivemos diariamente com questões relacionadas aos filhos. Não é uma tarefa nada fácil, ainda mais conjugada com o lado profissional, o marido/esposa, a família, a casa, os amigos, o gato, cachorro, papagaio… Enfim, são diversos itens que tomam muito do nosso tempo e da nossa energia. E chega um ponto em que a gente já não sabe mais pra que lado vai…
Os filhos começam a ter demandas diferentes, adequadas à faixa etária e ao momento em que estão vivendo. E a cada uma dessas coisas, vem questionamentos sobre como agir, o que fazer. Tanto deles quanto nossos. Pra eles, tudo é intenso e imediato. É agora ou já. Não querem esperar. Para nós, não é diferente, mas sabemos tolerar mais e aguardar com algumas coisas.
Entretanto, em muitos momentos da educação infantil (e aqui a educação é aquela cotidiana, de casa, que os pais deveriam dar), não sabemos o que fazer. O que fazer, como fazer, o que não fazer, como se comportar, o que permitir, o que negar. Não podemos permitir demais, mas também não podemos negar tudo.
Pois bem. É aqui que eu queria chegar. Não conseguimos dar conta de tudo. E isso é normal, porque somos humanos, imperfeitos, mas que tentam sempre, em sua maioria, fazer o melhor.
Aqui eu digo: “escolha suas batalhas”. Escolha algumas coisas que pra você são mais importantes, aqueles valores mais sólidos em sua vida, aqueles que você acha que seu filho deve aprender e seguir, e com eles, seja firme. Insista, reforce, discuta (no bom sentido) com seu filho, e faça valer. Veja aquelas outras coisas com as quais você pode ser mais flexível, e ‘deixe passar’.
Por exemplo. Pra mim a educação ‘formal’, da escola, é extremamente importante. Ela deve vir antes. Ela tem que ser prioridade. Porém, se enquanto meu filho está fazendo sua tarefa ele diz que precisa ir ao banheiro (ler seu gibi, eu sei), eu finjo que acredito e deixo ele ir. Depois ele volta e vai terminar o dever.
Mais um. Eu gosto de ter minha casa organizada, sem coisas pelo chão. Porém meu pequeno ama brincar com meus potes plásticos. Ou seja, a cozinha invariavelmente fica com os potinhos espalhados. Eu poderia brigar com ele. Mas a alegria dele em abrir, fechar, colocar um dentro do outro, levar pra mesinha, é tão grande, que eu ‘escolho’ não intervir. Eu finjo que não vi. Depois peço a ajuda dele pra guardar, e ele guarda. Ainda que por 5 minutos.
Como isso, você estará ensinando seu filho sobre tomada de decisões, sobre escolhas, que podem ser certas ou erradas, e a arcar com as consequências delas, sobre flexibilidade, tolerância, atitude, prioridades, e diversas outras coisas…
Porém não esqueça o diálogo. De vez em quando, se sua criança tiver idade, explique que algumas coisas são mais importantes e que com outras podemos esperar.
Isso tudo ajuda ainda a poupar nossa energia, pois brigar por tudo é muito cansativo… Para nós e pras crianças também!
E essa regra vale pra vida afora. Muitas vezes a gente deixa de fazer coisas que gosta para não ter que lidar com as que não gosta. Não sair com os filhos porque não gosta da bagunça que fazem. Não assistir um programa porque a louça do almoço está na pia…. Claro que não estou falando aqui de não se preocupar se os pequenos estão virando o restaurante ou a casa do seu amigo de pernas pro ar ou se a louça está no balcão há dias. Mas às vezes deixamos de apreciar pequenas coisas da vida por sermos rigorosos demais com outras.
Flexibilidade é a palavra. E a ação. Pense nas coisas que pra você são mais importantes, mais sérias, primordiais, e delas não abra mão. Mas outras, que podem ‘ficar pra depois’, deixe passar.
Como pais (e como pessoas), não podemos ganhar todas as batalhas. Mas se não formos tolerantes, conosco E com os pequenos, provavelmente perderemos a guerra.
Até mais,
Andressa Mottin (41) 9833 9229